quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Olha a concorrência ---- Eletronet

Fonte:
http://info.abril.com.br/noticias/tecnologia-pessoal/ministro-nao-sabe-o-que-fara-com-eletronet-16122009-40.shl


Ministro não sabe o que fará com Eletronet


BRASÍLIA - O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse hoje (16) que o governo vai investir para melhorar as redes de fibra ótica herdadas da massa falida da Eletronet.

Ele disse que o governo ainda não decidiu o que fará com essas redes e não quis se pronunciar sobre o assunto para evitar “especulações” a respeito da reativação da Telebrás.

“O mais importante é que o governo está de posse e, estando de posse, ele tem segurança para investir. Por que de que adianta eu ter essas linhas se não puder investir nelas? Então agora eu estou ciente de que eu posso investir, isso é um bom caminho”, afirmou Costa.

Na época em que foi divulgada a criação de um Plano Nacional de Banda Larga, cogitou-se a possibilidade de criação de uma nova estatal para concorrer com as empresas privadas, na tentativa de baratear os custos do acesso à internet de alta velocidade. A ideia não é aprovada pelo ministro nem pelos empresários do setor que querem que o governo disponibilize sua infraestrutura de fibras óticas para que elas possam ofertar o serviço em locais menos interessantes economicamente.

Hélio Costa, que esteve em audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, também criticou a taxa de interconexão cobrada pelas operadoras de telefonia móvel para ligações entre empresas. Na opinião do ministro, essa taxa encarece o preço das ligações e deve ser renegociada.

“Se você, fazendo uma ligação dentro da mesma empresa, pode ter um custo bem inferior, por que ele tem que ser tão superior quando você faz a utilização da rede da outra empresa? Todo mundo entende que a interconexão tem sido a grande vilã dos preços altos da telefonia. As empresas vão ter que encontrar soluções para isso”, afirmou.

Diante da dificuldade de se conseguir redução tributária nos estados para a ampliação do acesso à telefonia e internet móveis, o ministro considera que a redução da taxa de interconexão pode ser um instrumento de negociação.

“Não há intenção de reduzir carga tributária, mas eu acho que nós podemos fazer um esforço, tanto da parte das empresas de reduzir a taxa de interconexão, quanto dos governos estaduais e do governo federal. Se todo mundo diminuir um pouquinho, eu acho que a gente pode ter uma redução considerável na taxa de telefonia no Brasil”, afirmou.

O ministro disse ainda que o Plano Nacional de Banda Larga deve ser divulgado até 20 de janeiro do próximo ano, conforme solicitado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos objetivos da proposta é aumentar a conexão de internet de alta velocidade no Brasil dos atuais 19 milhões de pontos de acesso para 90 milhões até 2014.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

É preciso reestatizar a Telefônica

É preciso reestatizar a Telefônica

Fonte : http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/628/artigo154060-1.htm

ISTO É DINHEIRO - ENTREVISTA - SÃO PAULO - 21/10/09 - Nº 628 - Pg. 30 a 32
por Hugo Cilo

Ele não é petista, socialista, chavista ou adepto de qualquer outro ismo ligado à esquerda. Ao contrário, foi um dos principais executivos do Brasil em telecomunicações, no período pós-privatização.

Esse é Virgílio Freire, um consultor de 64 anos, que já presidiu companhias como a Lucent, subsidiária da AT&T, e a Vésper, a empresa-espelho na região de São Paulo. Hoje, ele prega algo que soa quase como uma heresia: a reestatização do setor, em especial da Telefônica.

E explica: As empresas estão mais preocupadas com o lucro do que com a qualidade dos serviços. Ele ainda questiona o investimento de R$ 2 bilhões anunciado pela empresa na reformulação do Speedy. Não estão comprando nenhum equipamento, afirma.

DINHEIRO - Por que o sr. passou a defender a reestatização das telecomunicações?

VIRGíLIO FREIRE - A questão vai além de ser estatal ou privado. Não sou petista ou qualquer outro rótulo que queiram me dar. O problema da telefonia no Brasil está na concentração de mercado. Hoje, um pequeno grupo de empresários detém a maior fatia da telefonia fixa. Isso é ruim para o País e péssimo para o consumidor. Eles estão mais preocupados com o lucro do que com a qualidade dos serviços. As decisões são sempre tomadas de acordo com os interesses dos sócios. A volta do Estado funcionaria como um regulador, assim como ocorre no setor bancário, com o Banco do Brasil e a Caixa

DINHEIRO - Seu alvo é a Telefônica, em São Paulo?

FREIRE - É a maior empresa e a que presta o pior serviço. Há muitos anos é a líder de reclamações no Procon. Dentro do contrato de concessão, assinado quando a Telesp foi privatizada, há cláusulas que preveem a retomada da empresa pelo Estado. Então, o governo pode pedir a empresa de volta. A telefonia, sem dúvida, precisa voltar para as mãos do Estado.

DINHEIRO - Estatizar ao estilo do venezuelano Hugo Chávez?

FREIRE - Não. Sei que a proposta de reestatizar uma empresa soa agressiva, radical. Ninguém vai rasgar contrato ou expulsar um grupo privado, como acontece na Venezuela. É exatamente o contrário. Trata-se de fazer cumprir o contrato, defender o consumidor e adotar medidas legais cabíveis em caso de descumprimento das regras. E a reestatização não é a apropriação indevida. É só pagar à Telefônica o valor que a empresa vale.

DINHEIRO - A regulação não é papel da Agência Nacional de Telecomunicações?

FREIRE - Seria, mas a Anatel não cumpre seu dever. Caberia a ela zelar pelos interesses dos consumidores, mas ela se preocupa mais em atender aos interesses políticos do governo e agradar a grupos de empresários. É um órgão absolutamente ausente, passivo e negligente na defesa dos consumidores. Alguém duvida disso? É inoperante, ineficiente e incapaz...

DINHEIRO - Mas recentemente a Telefônica foi multada em quase R$ 2 bilhões e o Speedy teve sua venda proibida. Não foi uma resposta do governo?

FREIRE - No caso da suspensão do Speedy, foi uma decisão defasada. A Telefônica vendia um serviço que não funcionava, instável e de péssima qualidade. No caso da multa, é uma piada, no mínimo. A Anatel divulga multas milionárias, mas os valores nunca são cobrados. Ou seja, é só para enganar a opinião pública. Até hoje a Telefônica não pagou um real sequer em multas para a Anatel. É por isso que as operadoras não estão nem aí para a Anatel. As empresas devem rir da Anatel quando essas punições são divulgadas. Por mais que o presidente da agência tenha boas intenções, o órgão que ele dirige não funciona.

DINHEIRO - Logo depois da multa, a Telefônica entregou à Anatel um plano emergencial de melhoria dos serviços e lançou um programa de modernização de mais de R$ 2 bilhões. Isso não basta?

FREIRE - Esse plano de investimentos é, no mínimo, propaganda institucional. Não existe de fato. Desafio qualquer um a apresentar um pedido de compra de equipamentos feito pela Telefônica. A Associação de Engenharia de Telecomunicação entrou em contato com todos os fornecedores no País, todos mesmo, de componentes para telecomunicações para saber para onde estavam indo os investimentos de R$ 2 bilhões anunciados pela Telefônica. Consultaram Alcatel-Lucent, Motorola, Siemens, Nokia, Huawei e todas as outras. Para nossa surpresa, até hoje não existe nenhum pedido ou compra de equipamento. Então, podemos concluir que isso é uma falácia.

DINHEIRO - A Telefônica tem capital aberto e é fiscalizada aqui e na Espanha. Como é possível?

FREIRE - Bom, vamos fazer uma análise do balanço divulgado pela Telefônica no ano passado. Daí, cada um tira a conclusão que quiser. A empresa informou que investiu R$ 2,3 bilhões em 2008. Desse total, R$ 459 milhões foram para desenvolvimento de sistemas, que nada mais é do que atualização de softwares, um valor dez vezes maior do que um grande contrato de TI. Totalmente desproporcional. Também divulgaram investimento de R$ 471,8 milhões em aquisição de equipamentos de assinante. Ou seja, modem para internet e aparelhos telefônicos. O preço mais alto desses aparelhos é R$ 100. Se a gente dividir R$ 471,8 por R$ 100, chegamos à seguinte conclusão: a Telefônica comprou 4,7 milhões de aparelhos em 12 meses. Muito estranho, não? A empresa possui hoje 13 milhões de linhas.

DINHEIRO - O balanço foi auditado por uma consultoria independente.

FREIRE - Prefiro não comentar sobre a reputação da Ernst&Young.

DINHEIRO - Como o sr. avalia a telefonia celular? É melhor do que a fixa?

FREIRE - Não é monopolista, mas é muito ruim por falta de pulso firme da Anatel. As empresas estão mais preocupadas em remunerar os acionistas do que em investir de forma a prestar um serviço de qualidade à população.

DINHEIRO - A própria competição entre as empresas não equaciona esse problema?

FREIRE - Um aspecto interessante sobre esta excessiva competição na área de celulares é que, por incrível que pareça, as operadoras não estão bem de lucros. A razão é simples. Elas acham que market share é quanto do número de assinantes ou clientes cada uma tem. Na verdade, 80% de todos as linhas celulares no Brasil são pré-pagas, que geram por mês uma receita que não chega nem à metade do que gera um pós-pago. Elas se concentram em vender, vender, e os pré-pagos quase não fazem ligações. São usados para receber, e consequentemente, não geram receita.

DINHEIRO - A estratégia está errada?

FREIRE - É uma estratégia suicida. Se eu fosse presidente de uma operadora de celular, iria concentrar esforços em vender a quem gera receita, os pós-pagos. Iria criar novos serviços. Iria paparicar meu cliente

DINHEIRO - Isso custa caro.

FREIRE - Já notou como a publicidade de todas as operadoras de celular é igual? E, sem sentido, do tipo vocês sem limites. Um slogan vazio. Se eu dirigisse uma operadora de celular, criaria um excelente atendimento ao cliente, sem terceirizar.

DINHEIRO - A terceirização é um problema?

FREIRE - Terceirizar qualquer função de contato com o cliente é suicídio. Você já notou que nenhuma empresa aérea terceiriza aeromoças?

DINHEIRO - A Telesp, onde o sr. já foi diretor, e a Vésper não tinham atendimento bom.

FREIRE - Muito melhor do que o atendimento de hoje. Foi com essa filosofia que criei a Vésper.

DINHEIRO - Então, por que a empresa não deu certo?

FREIRE - Porque os acionistas brigaram. A Bell Canadá, principal acionista, resolveu sair do Brasil e parar de investir na Vésper. Assim, cortou mais de US$ 2 bilhões de investimentos.

DINHEIRO - Na maioria dos países, o Estado não compete no setor de telefonia e as coisas funcionam bem. O que acontece lá?

FREIRE - Como se vê, não há como escapar do papel fiscalizador e protetor do consumidor que o Estado deve assumir. Na pátria do capitalismo, os Estados Unidos, tudo o que disse até agora é executado com competência pela Anatel deles, o Federal Communications Commision, que é todo ocupado por profissionais que têm anos de experiência. O FCC foi o modelo para a Anatel, mas nossa agência desde o início foi uma caricatura, não uma cópia benfeita.

DINHEIRO - Apesar das falhas, a Anatel tem tentado mudar. Concorda?

FREIRE - A agência não sabe trabalhar. Vou dar um exemplo simples de como a Anatel funciona de forma burra. A fim de promover a competição, a agência inventou uma coisa que existe em nenhum outro país do mundo. Inventou a discagem da operadora de longa distância a cada chamada. Isso nos força a discar 13 dígitos a cada chamada interurbana. Gastou-se uma fortuna para adaptar as centrais para isso, quando bastava ter copiado o que os Estados Unidos fazem. Lá, você faz assinatura com uma operadora de longa distância e pronto.

DINHEIRO - Isso pode ser mudado, não?

FREIRE - A Anatel não entende de satisfação do cliente. No caso dos Estados Unidos, a competição é até mais eficaz porque a operadora de longa distância que você contratou não quer perdê-lo

DINHEIRO - Afinal, qual a solução para o setor de telefonia no Brasil?

FREIRE - Caímos de novo na atuação do Estado, da Anatel, que deveria ter gente capaz de avaliar as operadoras por dentro.

DINHEIRO - Quem garante que a estatização será o fim dos problemas?

FREIRE - Não há garantias, mas é a alternativa mais sensata.

DINHEIRO - Sua ofensiva contra a Telefônica não prejudica seu futuro profissional?

FREIRE - Não me preocupo com isso. Hoje sou consultor de empresas internacionais de telefonia. Meu ganha-pão não está no Brasil. Por isso, tenho independência para falar.